ENTREVISTAS

2010

Alunos do Feliciano Sodré (Caroline, Thamires, Stephane, Tatiane e Cristiane da t. 3002cn em 2010) 

(A)-Com quantos anos você começou a pintar? E faz quantos anos que pinta?

(AG)- Não sei ao certo... comecei criança. Sempre gostei de arte. Inicialmente, pintava em papel com guache como a maioria das crianças, depois comecei a pintar peças de gesso (era um brinquedo  da Disney que se aprendia a moldar os personagens em gesso e depois pintar). Gostava muito.         

Ainda criança com minha mãe aprendi a pintar camisetas com molde vazado. E, ai fui crescendo e aprendendo várias formas de pintar. Na faculdade aprendi desenho de observação, tive aulas de gráfica, pintura, aquarela, desenho geométrico... Fiz curso de pintura em gesso (arte barroca), em madeira, aprendi pátina... Em 2002, eu acho, aprendi a fazer papel marche e comecei um trabalho numa comunidade do Rio de Janeiro ensinando as crianças a criarem bonecos de papel e fazer relicários, Mas telas, só comecei a pintar em 2003 quando estava fazendo licenciatura em artes.

(A)-Como surgiu o desejo pela pintura?

(AG)- Na casa de meus avós tinham vários quadros... Costumava ficar olhando para eles e imaginando histórias... Meu avó, também, colecionava selos de pinturas famosas e gostava de falar sobre os pintores e isto me interessava muito. Depois, acho que o fato de meu pai e o pai dele pintarem mesmo que como hobby deve ter tido alguma influência em mim. Lembro-me que participei de um concurso de pintura de palhaço ainda guria e recebi uma menção honrosa que dava direito a um curso de pintura. Lá, aprendi bastante sobre cores que, alias gosto muito até hoje. Bom... também, as visitas frequentes a museus com meus pais ajudou... em fim acho que foi um conjunto de coisas.

 (A)-Quais são as suas referências na pintura?

(AG)- Os pintores renascentistas como Rafael, Michelangelo e Leonardo da Vinci me fascinavam bastante pela perfeição mas também pintores como Van Gogh, Renoir, Goya (na sua fase final) e Kandinsky me impressionavam pela emoção. Picasso era para mim também uma referencia. Meu avó costumava e costuma até hoje dizer que Picasso "não vale nada" e compara minha obra com a dele. Bom... só posso dizer que acho isso um "elogio" apesar de saber que ele não gosta e prefere os pintores mais "realistas". Com as histórias de meu avó e depois visitando as cidades históricas, Aleijadinho foi um artista que me marcou muito pela sua história de vida. Osvaldo Teixeira é outro brasileiro que tenho como referência. Tem um quadro feito com pastel seco da mãe e um menino que acho muito bonito.

(A)-Você acha que a arte pode estimular o desenvolvimento de uma criança?

(AG)- Sim. Certamente. Veja, a escrita da letra "o" é nada mais que uma bola (circunferência). Podemos dizer que a escrita é um desenho abstrato convencionado. O teatro, também, ajuda no desenvolvimento da fala, desinibe, ajuda na expressão corporal. Já, a música desenvolve o ritmo, a fala auxilia, por exemplo, estimulando o celebro (com músicas agitadas como o Rock) e podem acalmar como com músicas suaves instrumentais. É, hoje, usada inclusive para acalmar as crianças ainda no ventre materno. A pintura pode ser usada como terapia, assim como a música, a dança, o teatro, a escultura e etc. Enfim, a arte é muito rica. Muito do que se sabe, atualmente, sobre determinadas culturas e seu desenvolvimento baseou-se na arte produzida por esses povos. Logo, como não estimulará e dará subsídios para o estudo e desenvolvimento da criança e do ser  humano em todas as suas fases.

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2006

Catálogo da Caixa Cultural SP – 2006

Grupo Atelier21 (GA) -Fale sobre seu trabalho...

Andipa Garrido (AG) - Nossos sentidos são espaços abertos que buscamos preencher, uma vez que através deles, percebemos o mundo e somos capazes de transforma-lo. A percepção visual do croma é o que campeio. Trabalho com a idéia de intensidade visando um olhar mais contemplativo para o mundo. Sentir a temperatura das cores através da intensidade (ou saturação), foi o que explorei nestes trabalhos. Por fim, utilizo-me da linguagem autônoma da cor com imagens entre o abstrato e o concreto(figurativo) no que se chama em filosofia de abstração imperfeita. 

GA - Você traz para o seu trabalho a sua experiência na área de arte-educação?

AG - Sim. Me preocupo bastante com o processo artístico e costumo fazer um caderno de anotações para cada projeto. Nele, anoto tudo que pesquiso e todas as idéias que vão surgindo.O que mais importa para mim é o processo, contudo, a obra pronta, certamente, é quem o traduz. Busco conhecer e transmitir aquilo que pesquiso, tanto no meu fazer artístico como na minha atuação como arte-educadora. Procuro a beleza como um dos critérios e bases para o conhecimento do ser. Minha linha de pesquisa pictórica busca embasamentos no abstracionismo e na pintura metafísica. Trabalho com as formas desnaturalizando-as, e buscando a idéia de movimento por meio de cores e planos.

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 2005

Catálogo Conjunto Cultural da Caixa RJ - 2005 

GP -Existe uma relação entre o aspecto material e um sentido espiritual em sua obra? 

AG - A relação existente entre o material e o espiritual que imprimo para transformá-lo em uma obra é o desejo de conhecer e expressar a essência do existir (ser). Fazendo isto, sinto-me, talvez, mais livre. Sinto necessidade de entender como ser, para não só exprimi-lo, mas sobretudo, dar sentido ao meu viver. 
O sentido espiritual é a busca de um Deus invisível e visível, humano e divino, lógico e ilôgico que tudo criou, mas nada retém para si. E o sentido material é tomar, como que um pouco deste poder de criar, elaborando obras para exprimir, através de cores, formas e texturas, Aquele que é. Como se fosse possível inverter os papéis: eu como criadora e Deus como criatura. Grupo Percursos

(GP)-Fale do seu trabalho...

(AG)- O trabalho nasce da meditação sobre um acontecimento místico do séc. VII dc chamado de "O milagre de Lanciano". Isto levou-me a pensar sobre o transcedental. Busco uma forma de evocar a espiritualidade humana e em Kandinsky, encontro inspiração. 
Hoje, a mentalidade predominante é a da valorização do fazer em detrimento do ser. Vivemos num mundo pragmático e em guerra, onde o ser humano está sempre com pressa. Em nossa sociedade consumista, tudo é descartável. Alguns historiadores chegam a dizer que não é mais o fato obsoleto mas, sim, o projeto, antes mesmo de ser executado.

 

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